terça-feira, 17 de junho de 2008

Avydia!!!

Engraçado como são as coisas.
Quando aprontei Maytréia não era minha intenção vendê-lo. Na verdade, eu o coloquei de graça no site do Universo Germinante e considerava minha missão cumprida. O jogo estava lá, quem baixasse poderia jogar e ponto final! Mas não foi assim que meu Darma se expressou; Maytréia foi encontrado pela Editora Daemon (para aqueles que não são ignorantes temerosos e acusadores do que não conhecem, pesquisem o significado original deste nome) que gostou do jogo e resolveu publicá-lo.
Eu não entrei em contato com nenhuma editora para lançar o jogo, não fiz nem mesmo uma divulgação decente dele. Quando ia para eventos de RPG sempre mestrava Rebelião e deixava Maytréia de lado e só fui me preocupar em postar contos do Universo Iniciático quando a editora se propôs a publicá-lo.
Mas ele interessou a Editora. O que poderia eu fazer? Dizer "não obrigado"? Quem sabe da dificuldade que é publicar algo neste país e - pior ainda - um RPG entende o tamanho da oportunidade que estava sendo oferecida. E isso pela maior editora de RPG's nacionais do Brasil! A versão impressa de Maytréia foi lançada - por escolha da editora - no EIRPG de 2006, no dia 1º de julho!
Vários "sinais" aconteceram, mas não vem ao caso. Eu, ainda meio relutante, aceitei publicar o jogo. Na verdade, eu ainda achava que Maytréia não vingaria e que teria que me recolher a versão download depois de um ano mais ou menos.
Ledo engano. Todos que acompanham sua trajetória sabem do que falo e não precisamos de detalhes.
No entanto, desde a primeira vez que este livro foi impresso sofro ataques de "anônimos" que me acusam de duas vertentes: ou de que fiz algo demoníaco ou de que traí algum segredo iniciático para ganhar dinheiro e fama.
Novamente digo: engraçado como são as coisas.
Não escrevo músicas imbecilizantes, não dirijo programas de tv e de rádio que claramente exploram a ignorância e o temor das pessoas e - principalmente - não me vanglorio de ser mensageiro de Deus, Guru, Iluminado ou qualquer outra destas ilusões de que verdadeiros monstros inimigos da humanidade posam para explorar as massas.
Tudo o que fiz foi criar um jogo onde aproveito o contexto lúdico para passar alguns conceitos que podem ser encontrados nos livros e palestras certas se as pessoas souberem procurar. Não há nada ali que não possa ser encontrado em livros como "Doutrina Secreta", "Sistema Solar", "Isis sem Véu", "O Verdadeiro Caminho da Iniciação" e muitos outros que podem ser encontrados em qualquer livraria ou sebo. E eu não seria abusado e desrespeitoso para com as pessoas que dedicaram suas vidas a libertar os seres de me gabar achando ser algum grande descobridor de mistérios ou mensageiro dos deuses.
Tudo o que fiz foi criar um jogo, mas recebo sempre acusações infundadas - muitas delas claramente feitas por quem nem sequer passou os olhos pelo livro - sobre "satanismo" ou "traição" e sinceramente estou de saco cheio. Sempre vem de alguém anônimo ou com um perfil fake que depois é desativado; covardes que falam pelas costas e nada fazem de concreto para ajudar uma humanidade que necessita desesperadamente de respostas e não de acusações; de propostas concretas para amenizar o sofrimento dos seres e não de ataques covardes de quem não é capaz de assumir o que faz.
Enquanto perco meu tempo desabafando contra a ignorância penso em quantas pessoas estão cogitando se suicidar, quantos jovens estão sendo empurrados pelo abismo sem fundo das drogas, quantas meninas são forçadas a se prostituir, quantas pessoas passam fome... agora! Enquanto escrevo essas palavras inúteis que não vão sensibilizar os covardes de plantão! Penso nessa humanidade explorada pelos fabricantes de músicas imbecilizantes, pelos programas de medo e desejo, pelos messias da falsidade... em resumo, pela indústria que se alimenta da ignorância.
Avydia avança com tudo, cada vez mais forte...
Mas, dizendo uma última vez: engraçado como as coisas são.
Pois quanto mais sou atacado por um lado, mais sou apoiado por outro. Além daquelas pessoas que me dão apoio direto e verdadeiro (e elas são muitas - algumas sequer me conhecem pessoalmente!), existem os acontecimentos que se "encaixam" fazendo com que as coisas aconteçam a favor do jogo.
Portanto, a vocês portadores/mensageiros da ignorância, lamento informar: Vaysas, o terceiro suplemento de Maytréia está na gráfica e será lançado no dia 5 de julho, o quarto já está sendo trabalhado e o próximo para o ano que vem já está planejado por mim e por pessoas que se propuseram a entrar nessa empreitada! E ainda temos mais um e-book a caminho por mais pessoas que também entenderam o sentido do jogo e se comprometeram.
Para aqueles que querem apenas jogar, divirtam-se à vontade, pois Maytréia permite isso.
Para os que querem aprender, sejam bem-vindos e vamos trilhar essa juntos, como companheiros de jornada, sem ninguém melhor do que ninguém. Todos temos o que aprender.
Para os seguidores de Avydia... convidamos a ler o jogo e se tornar mais um companheiro de diversão e/ou de aprendizado, pois o triste de se fazer um inimigo é que perdemos um amigo.
Peço desculpas, precisava desabafar.
"Meus irmãos são aqueles que fazem a Obra de meu Pai."
Joshua Ben Pandira

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Wesak!

Hoje é Wesak, o dia em que Buda teria feito a sua primeira aparição como tal. O importante é compreender que a lua em que estamos em determinada configuração libera energias para que o Buda que realmente interessa possa se manifestar: o seu!
(Não estamos aqui negando a importância o original ou o do maior de todos eles, que fique bem claro!)
Este não é um blog para isso, mas podemos afirmar que se você deseja ser um Buda aja como tal, observe-se e respeite o Buda que existe em tudo o que se manifesta...
Feliz Wesak!

15 anos de Hubble...









Hoje, o telescópio Hubble fez 15 anos de seu lançamento em órbita da Terra. Algumas importantes descobertas astronômicas foram feitas depois de seu "nascimento", como a descoberta do primeiro sistema solar que não seria o da Terra (foram descobertos outros depois). Calcula-se que ele deva ficar em órbita até 2013 pelo menos.




Para comemorar a data, a agência espacial européia e a NASA resolveram disponibilizar fotos do que chamaram de "Guerra das Galáxias", onde vemos galáxias em rota de colisão e em pleno "choque". As fotos são impressionantes e postamos algumas aqui. Elas foram tiradas quando ele estava a cerca de 569 quilometros da Terra.




Que a tecnologia e a ciência (em que temos a esperança de se tornarem as religiões - no seu sentido original - do início deste século) ajude a ampliar a consciência humana.




Parabéns Hubble!

Cultura Nerd!

E eis mais um site para quem gosta da chamada "cultura nerd". O nome é Cultura Nerd! mesmo. Na verdade, ele é um multiply com informações e opiniões variadas... todas muito legais.
O link é http://culturanerd.multiply.com/.
Aviso! Ele tem spoilers...

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Mais um suplemento de Maytréia!



Mandei um artigo para o pessoal da Ópera Cultural e não é que o danado do Leonardo T. acabou por transformar ele no primero suplemento em pdf de Maytréia?

"Intrusos" fala de um tipo misterioso de ser que pode "lubridiar" a Maya e se manifestar no físico, sendo percebido e interagindo diretamente com suas vítimas.

Este é o tipo de criatura que o Mestre do jogo pode introduzir e surpreender aos jogadores. O conceito em si pode também ser aproveitado em outras ambientações. Quem ainda não conhece o jogo pode baixar o arquivo (é muito leve) e dar uma olhada rápida para conhecer algumas coisas. O trabalho gráfico ficou muito atraente e bem fiel a diagramação original do jogo.

O melhor de tudo é que é de graça!!! Abaixo vai o link para você baixar:




Divirta-se!

Obrigado pessoal da Ópera Cultural e valeu Leonardo!

Aniversário de Katsuhiro Otomo

Tá bom, está atrasado. Foi no dia 14/04. Mas andei tão enrolado que deixei passar isso junto com o "Dia Internacional do Desenhista" (é só ver o post abaixo).

Mas o criador do ótimo "Akira" merece ser homenageado, mesmo que com atraso.

Nascido na provincia de Myagi (Japão), Katsuhiro Otomo passou grande parte de sua infância assistindo a filmes americanos. Aproveitou várias férias assim, o que influenciou sua decisão de ser um criador e o estilo que desenvolveria em suas histórias.

Seu primeiro trabalho foi "Jyu Sei", uma adaptação do livro "O Falcão Maltês".

"Akira" foi lançado em 1982 e se tornou um sucesso mundial imediato.

Desejamos muita felicidade e muitos anos de vida a este grande criador.

Dia Internacional do Desenhista

Foi no dia 15/04 e eu esqueci de homenagear a esse guerreiro (pelo menos no caso do Brasil). Peço desculpas. Coloquei um post no Universo Germinante e espero ter me redimido um pouco...

Que vocês - desenhistas profissionais ou não - continuem a nos maravilhar com o dom maravilhoso que desenvolveram!

Café com Jasper

Mais um blog legal no pedaço. Ele se chama "Café com Jasper" e fala de RPG, designe, jogos e outras coisitas mais do gênero. Vale uma olhada. Seu link é www.cafecomjasper.wordpress.com e desejo muito sucesso para Jasper!
O time daqueles que trabalham pelo RPG e pelas HQ´s aumenta cada vez mais... :)

terça-feira, 25 de março de 2008

Um Tipo de Amor

Com certa preguiça, tenho que admitir que devo algo para aqueles que têm a paciência de ler meus contos e mini-contos. Mas as coisas estão mais corridas do que esperava. Para não ficar sem nada, publico o trabalho de quem não é vagabundo como eu e produz algo! Hoje será o poema "Um Tipo de Amor" de nossa amiga Érika, que játem trabalhos publicados aqui.
O Universo Visitante serve para mostrar que todos têm algo a dizer... e que todos podem ser ouvidos. Se desejar, basta mandar para mim. Espero que todos entendam que eu terei que analisar o material antes. Mas, fora isso, publico o que der numa boa! : )
Boa leitura!

Um tipo de amor.
A liberdade do amor,
A solidão de amar,
A serenidade de esperar,
O sonho a se realizar.
A vida a relembrar,
O desejo de voltar,
A carícia que arrepia,
Os segredos que compartilhamos,
Os crimes que cometemos,
O desejo que não deixamos passar,
A realidade que suportamos,
Os sonhos que a esperança mantém,
Os momento que nos olhamos,
As bocas que beijamos,
O sabor da boca que amamos.
A memória que perdemos antes de estarmos juntos.
A paciência da rotina,
A rotina que não se repete.
Pois cada dia é único e quando o presente se torna passado o desejamos como qualquer outro dia que hoje relembramos.
setembro de 2000

domingo, 23 de março de 2008

Um blog super legal!

Taí! Para quem gosta ou deseja conhecer o universo do RPGQuest, existe um blog muito legal e que pode ajudar bastante: Crônicas do Multiverso.
Lá encontramos contos e informações sobre o sistema e o jogo nacional que mais cresce e ainda podemos comprar livros sem pagar o frete. Legal né?
Clica aí a vai firme!
http://www.cronicasdomultiverso.blogspot.com/
Ah, sim! Feliz Páscoa. Mas entenda o verdadeiro sentido dela. A ressurreição e/ou renascimento verdadeiros ocorre dentro de nós mesmos. E isso só ocorre quando renascemos no físico, no psíquico e no espiritual...

quarta-feira, 19 de março de 2008

Mil coisas ao mesmo tempo.

Aconteceram tantas coisas nas últimas 24 horas que poderíamos postar aqui... Vamos nos restringir um pouco e falar de duas delas que também são divididas em duas (vocês vão entender):

1 - Mortes: As mortes de Arthur C. Clarke e de Anthony Minghella tornaram o mundo da cultura mais pobre. O cineasta responsável por filmes do quilate de "O Paciente Inglês" e "O Talentoso Ripley" tinha uma tonalidade interessante na sua maneira de dirigir. Tá certo que ele nunca foi um arrasa-quarteirão ou tinha uma genialidade latente, mas seus filmes valiam o preço do ingresso e nos provocavam as emoções que se propunham a provocar.
Mas o caso de Arthur C. Clarke mexeu mais conosco. No final dos anos 60 e durante os anos 70, quando se falava em ficção científica era inevitável pensar em dois nomes imediatamente: Arthur C. Clarke e Issac Asimov. Os dois tinham muito em comum; eram ambos escritores e cientistas, definiram a ficção científica e faziam parte de uma escola mais "otimista" dos escritores deste estilo junto com Gene Rossenberg (criador de "Jornada nas Estrelas") e outros. O futuro da humanidade era visto por uma ótima otimista, onde conquistaríamos o universo e nosso conhecimento e nossa capacidade tecnológica nos levariam ao patamar de deuses (na década de 80, principalmente, este modo de ver o futuro da humanidade seria derrubado).
Mas existiram diferenças. A primeira é uma nota triste: enquanto Asimov era bem família, Clarke assumiu gostos sexuais um pouco... ortodoxos. A segunda é que Asimov sempre achou que os EUA (onde morava) e o resto do mundo tinham solução, Clarke foi para Sri Lanka para se afastar do Ocidente.
Mas a terceira diferença é - com o perdão do chavão - a diferença que fez a diferença. Particularmente, preferimos Asimov, mas até onde sabemos Arthur C. Clarke foi o primeiro escritor a conseguir mesclar ficção científica com espiritualidade. E fez isso de uma maneira única e genial. Se tornou emblemática a forma com que o gênero é tratado em "2001 - Uma Odisséia no Espaço" e em suas continuações. Uma dica é que procurem o livro "O Fim da Infância" (sensacional) e o conto "Os Nove Bilhões de Nomes de Deus" (simplesmente fantástico).
Os fãs de ficção - mais uma forma de cultura completamente desprezada no nosso país - devem estar com um justo luto.

2 - Ironias: Hoje é dia da escola. Hoje faz 5 anos do início da guerra do Iraque. Repararam a ironia? As escolas são diferentes. A educação que criou Bush não foi a mesma que nos criou. Ele teve escolas "melhores" que lhe ensinaram que o lobby das armas e do petróleo deve se manter mesmo que a custa do sofrimento e morte de povos (inclusive o seu próprio). No Brasil, cidades como Rio e São Paulo vivem em uma guerra civil disfarçada e o interior apresenta suas batalhas sangrentas por falta de educação enquanto que guerras como a do Iraque são promovidas por quem teve a melhor educação possível (educação melhor para uns que para outros? Onde está a tal da democracia?).
Vamos refletir sobre isso...

Até amanhã.

terça-feira, 18 de março de 2008

Para não passar em branco...

Mesmo com minha conexão com a internet recuperada, não é que me atolei o bastante para não conseguir postar nada nestes últimos dois dias?
Estou passando aqui para dizer que os desenhos do primeiro suplemento de Rebelião - que se chamará Céu e Inferno - estão terminadas. Com isso começamos a edição do danado.
Considerando-se que estou digitando freneticamente o Vaysas, quem sabe não teremos dois suplementos para lançar no EIRPG deste ano?
E ainda temos notícias sobre Os Combatentes. É o seguinte: a editora propôs que mantivéssemos os quatro primeiros números no site (como já se encontram) e deseja publicar a partir da 5ª aventura. Ou seja, na edição nº 3 de Tempestade Cerebral teremos uma história inédita continuando a saga da missão que vai mudar o destino da humanidade!!!
Espero que considerem estas boas notícias! Nós consideramos (apesar de que ficar rico, que é bom, nada né...).
Até amanhã.

sábado, 15 de março de 2008

Crepúsculo

Finalmente!!! Voltei a ter acesso a bendita da internet!!! Agora prometo manter ma regularidade maior, ok? E para voltar, mais um conto do Universo Visitante! Esse foi escrito porLeonardo T. que é um dos responsáveis por revistas digitais como ÓperaZine e DaemonZine, além de criar conceitos muito legais para jogos!
O Universo Visitante serve para mostrar que todos têm algo a dizer... e que todos podem ser ouvidos. Se desejar, basta mandar para mim. Espero que todos entendam que eu terei que analisar o material antes. Mas, fora isso, publico o que der numa boa! : )


Crepúsculo
Em um mundo onde tudo o que existe é feito para esfarelar-se em nadas, evanescente tal quais sentimentos aflitos e pueris de uma criança, uma simples história entre duas partes distintas, desabrocha como uma explosão entrópica.
E foi assim que em um dia trivial, daqueles, fartos em suas trivialidades, Crepúsculo despertou. Ele se levantou do leito gramado do qual se usufruiu, respirou fundo e ficou ciente do dia. Um passarinho cor de primavera veio lhe felicitar pelo novo dia, pousando em seu ombro direito. Crepúsculo apenas sorriu e pôs-se a caminhar pela cidade cinza, pedregosa, fedorenta e barulhenta, o gramado da praça pública sempre lhe acolheu nas noites, afinal, Crepúsculo não passava de um jovem mendigo que gostava de poesia e simplicidade, a caminhar despercebido pela cidade.
Crepúsculo nasceu em uma família rica, para ele, rica em futilidades, pois o que era o dinheiro e as coisas materiais comparados ao desabrochar de uma flor, o cair de uma folha de árvore anunciando o outono, o ósculo solar nas manhãs de verão? Para ele não passavam de simples poeira comparada a tais milagres, por isso quando completou seus estudos, abandonou seus familiares e sua vida material para se tornar um mendigo fazedor de poesia, pois mesmo com todos aqueles demônios habitando em sua cabeça, seu espírito era mais forte e verdadeiro.
Tudo o que o jovem mendigo possuía era um caderno velho e um toco de lápis, os quais estavam sempre à mão. Ele, naquele dia trivial, caminhou até a capela da cidade, sentou nos degraus desta e pôs-se a escrever. Escreveu até toda a sua força abandoná-lo, até o último sopro de vida lhe deixar. E assim ele adormeceu para todo o sempre naqueles degraus, os quais nunca lhe pertenceram.
Aurora ao sair da capela encontrou o corpo do mendigo estirado na escadaria, ela correu até este, pôs a mão sobre a face dele para sentir a respiração, nada, tentou sentir seu pulso, nada. Ao pegar o braço do mendigo para sentir o pulsar, ela notou um caderno que estava acolhido pelos braços dele, pegou-o, estava bem cuidado, ao abri-lo pode ver que na primeira página estava escrito Poemas e algumas idéias inerentes à vida escrita por Crepúsculo, o mendigo. Tomada por uma vontade megalomaníaca e repentina a jovem sentou-se ao lado do cadáver na escadaria e começou a ler.
Se alguém esta lendo este caderno agora, é sinal de que finalmente me iluminei! E como a luz não possui forma, assim me encontro neste exato momento. Pude me desapegar da última coisa material que me restava, esta o meu próprio corpo físico, e assim, iluminado, espero, que estas minhas palavras não se percam nas cinzas irreais da realidade e possam atingir a alma de alguém, pois sim, a alma é a única coisa realmente real! A única coisa inquebrável!
Tracejo com uma grafite até a sua estrutura se extinguir, poemas, idéias, vontades, sonhos, dores, impressões e ilusões minhas a respeito da vida a qual foi me dada e não pedida! Eis que por causa dela, quem mais tarde revelarei neste caderno, me tornei inquebrável! Enfim, desculpe-me a demora e a grafia, esta já de uma intimidade magistral minha, começo com um verso, meu primeiro verso!

Estes muros sangram! A seiva dela, Mãe Natureza!
Estes túmulos enganam aqueles que da vida pensam ter certeza,
Tornei-me culto para assim poder me aculturar
Do luxo pude me desapegar para neste ato de sangue poder sangrar!

Formei-me em duas universidades, Música e Filosofia, minha família sentia muito orgulho pelos meus diplomas, mas por minha pessoa nem tanto, afinal, desde que eu nasci sempre fui um músico e filósofo, e eles tão doutrinados a esta vida falsa, a esta rapsódia! Só assim me consideraram após lhes mostrar meus diplomas!
Foi assim que, em um belo dia, queimei meus diplomas com todas as coisas inúteis, que a minha família abastada me dera, no quintal de minha casa, salvando apenas a roupa do corpo, um lápis e um caderno. Assim os abandonei e respirei o desapego!

Onde não há inveja, não há violência!
Onde não há o apego material não há a inveja!
Moldei-me nos livros e na ciência
Mas a grande sabedoria colhi naquela árvore de cereja!

Desobedeci à civilização e lhes deixei numa canção
Bebi da água dos bosques e caminhei sem o tempo!
Voltei-me para a cidade e não mais escutei sequer canção
Na solidão inexistente pude achar o mais puro acalento!

Aurora conteve-se por um momento, estava muito confusa e intrigada. Aquele que estava morto ao seu lado fora uma grande pessoa, um sábio, um tolo, um poeta, um indigente, um jovem! Ela observou o semblante de Crepúsculo e chegou à conclusão de que ele não deveria ter mais do que vinte e poucos anos, ela abriu sua bolsa, pegou o seu celular e ligou para seu pai, explicou-lhe a situação e enquanto esperava pela ajuda retomou a leitura.

Minhas musicas eu nunca ousei mostrar para alguém, pois estas são de um íntimo inexplicável, as pessoas nunca estiveram perto o suficiente para sentir o gosto de minhas lágrimas, e nem eu as delas, como poderiam compreender ou absorver algo que eu sangrava sempre que precisava me deitar no colo etéreo do nada e chorar a dor que me afligia?!
As pessoas são muito violentas, muitas vezes até sem perceber, pois a vida na atual sociedade exige da violência, seja física, verbal ou mental. Uma sociedade não existe sem violência, um dogma religioso não é mantido sem a violência e assim por diante. Eu nunca pude compreender a violência. Muitas vezes em minha vida antiga me usufrui dela, mas isso me machucava de uma forma incompreensível, logo resolvi abandona-la e me tornar um servo da não-violência. Para isso foi preciso me desapegar da sociedade, do ter, pois quem tem sempre quer mais, cobiça o que o outro tem, e onde não há inveja não há violência, assim rabisquei meu primeiro passo para uma desobediência civil e meu desapego da sociedade.

O fogo da sabedoria queima mais que o solar.
O Sol cega os tolos que o procuram ao meio dia
Mas agracia os bem aventurados que o contemplam à aurora
As cores invadem a mente e a alma transformando tudo em ar
Enquanto que ao meio dia seus olhos perdem-se na cegueira tardia

Estou sentindo algo por certa pessoa, mas o que eu sinto é de uma grandeza imensurável, tanto que fui capaz de abandonar minha vida iluminada para voltar a esta cidade. A imensurável metafísica comparada com a dor atemporal que se reveste em plumas multilaterais me esnor...

Aurora teve sua leitura interrompida, pois a página estava rasgada como as demais, o que lhe restava algumas palavras e parágrafos sem nexo. Apenas a última folha estava inteira.

Ontem fui violentado e espancado por um grupo de jovens materialistas, um deles era meu irmão mais novo. Por eu estar sujo, esfarrapado e dormindo na rua, ele não deve ter me reconhecido ou teve vergonha de me reconhecer, eu o entendo. Eles me feriam fisicamente, mas eu não me importava e não ousava revidar, afinal eu sou um discípulo da não-violência! Pegaram meu caderno o qual levei tanto tempo para escrever a rasgaram suas páginas! Até então não tinha derramado lágrima alguma, mas ao ver minhas palavras sendo despedaçadas e caindo ao relento frente aos meus olhos, não agüentei e cai aos prantos. Tudo o que restou foram as três primeiras páginas e esta última onde simplesmente termino este caderno com uma frase.

Eceuqse edadinamuh a euq sariemirp sa oãs ue omoc saossep!

O pai de Aurora chegou com uma viatura da polícia, jogaram o corpo de Crepúsculo na carroceria, a jovem entregou o caderno para o policial, que o jogou junto ao corpo do falecido e em seguida partiu com a sirene desligada.
Aurora chegou a sua casa, tomou um banho, se aprontou e saiu com suas amigas para fazer compras no mais novo shopping da cidade. Tudo o que lera naquela manhã, não fizera o menor impacto em sua vida, sentia-se satisfeita, pois ajudara a manter a cidade limpa, assim, cumprindo com suas obrigações de boa cidadã.
É triste, eu sei caro leitor, acabar com o conto desta forma, mas a vida infelizmente ou felizmente, sei lá, é assim. Tudo se quebra, menos a alma de pessoas como Crepúsculo, que acreditava nos olhos, para ele, estes eram o espelho da alma, e se pararem para refletir um pouquinho, a imagem que temos no espelho é uma imagem invertida, a mesma, porém ao contrário. Pensem assim na última frase do caderno de Crepúsculo. Passar bem!

Um conto escrito por Leonardo Triandopolis Vieira.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

O valor das coisas e o valor de cada um.

Eu me lembro de quando Rebelião já estava pronto e como ninguém queria publicar o coitado. Todos a quem apresentávamos o jogo diziam que ele era muito bom mas "entrava em conflito" com alguma publicação que a editora já tinha ou com "algum projeto em desenvolvimento" da mesma. Existe muito talento por aí que não consegue aparecer. Por isso mesmo, crio aqui a seção Universo Visitante, onde postarei contos, poesias, pensamentos, desenhos e sei-lá-mais-o-quê que aparecer. Mas não se preocupem (ou respirem aliviados); isso não é desculpa para que eu pare de postar material meu, ok?
O Universo Visitante serve para mostrar que todos têm algo a dizer... e que todos podem ser ouvidos. Se desejar, basta mandar para mim. Espero que todos entendam que eu terei que analisar o material antes. Mas, fora isso, publico o que der numa boa! : )
Hoje vocês vão conhecer o trabalho de Ericka Deriquehem, que carrega um estilo muito leve e interessante (bem diferente do meu). Eu gostei muito e pretendo então estreiar essa seção (que fará muito sucesso, espero) com um conto seu chamado "O valor das coisas e o valor de cada um".
Divirtam-se!

Portanto Darcy casou. Coisa mais perfeita era Ritinha. Muito linda, clarinha, boquinha, olhinhos doces. Toda meiguinha. Dona de casa exemplar e além de tudo, cozinhava que ela só. Era prato para todos os gostos.Falando do Darcy. Pessoa muito boa, um homem centrado e com critério para tudo. Nunca teve um amigo que lhe fizesse uma falcatrua. Todos gostavam muito do Darcy.Passados três meses do casório e tudo ia muito bem. Casa um brinco, geladeira repleta de gostosuras e ainda com a preocupação do equilíbrio. Nada de gorduras ou frituras, para não fazer mal ao maridão e ela não perder a boa forma. Uma esposa a antiga com os critéros da mulher moderna. Coisa de doido era a moça.Ela tinha uma regra porém e da qual não abria mão. Pedia sempre a seu marido que nunca chegace em casa fora de hora. Nem cedo nem tarde, dizia ela. Para não estragar o jantar e nem os mimos que ela reservava para ele após um duro dia de trabalho. E se foram dois anos assim, tranquilos, sem atropelos, uma esposa dedicada e apaixonada e um marido satisfeito e realizado o homem mais feliz do mundo.Foi então que Darcy resolveu pedir a Ritinha que era hora deles terem um filho. A moça empalideceu._Poxa amor! Filho agora! Tem certeza? Não seria melhor esperar e aproveitarmos mais um tempo?E foi por aí dando tantas desculpas que Darcy nem falou mais na coisa.Mais um ano e a cobrança era geral. Parentes e amigos queriam vêr um herdeiro desse casal perfeito. No trabalho chegou a ouvir dos amigos que mulher bonita e prendada como a Ritinha tem que ter filhos logo...Ele então resolveu tocar novamente no assunto. E a resposta foi decisiva._ Olha Darcy. Se eu quizer ter filhos eu falo tá! Sou eu que vai gerar, cuidar e nem vou ter mais tempo para nós. Quero esperar pelo menos mais uns cinco anos e sei lá.Ele se aborreceu._ por que isso? Que besteira! Todo casal quer ter filhos, mudar a rotina de recem casados para de pais.Foi aí que ela soltou o que seria a pulga na orelha de Darcy._Não quero mudar a rotina. Eu tenho meus dias só para mim e você não tem do que reclamar em nada. Não abro mão de minhas tardes e de minha liberdade.Ele ponderou como sempre fazia, calmamente._ Está bem. Já entendi.Preferiu não dizer mais nada. Saiu sem discutir. Sempre achou que isso não resolvia e afinal eles nunca haviam se desentendido. Tinha mesmo que analisar tudo o que se tinha dito.Sob o chuveiro, depois de muita reflaxão. Ele começou a imaginar as tardes da mulher._Casa sempre arrumadinha, roupas, comida, orçamento em dia, contas pagas, compras feitas. Essa mulher faz o que todos os dias?_Arruma e tem muitas tarefas. Deus, com estou sendo injusto.Ao voltar para o quarto, beijou a esposa e solenemente pediu mil desculpas pela discuçaõ desnecessária._Sinto muito minha flôr. Você só quer cuidar de mim e eu aqui fazendo mais cobranças.Ela se voltou para o marido e se encheu de ternura dando a ele todo seu amor...Passados uns meses e Darcy que só tinha elogios para esposa. Via seus amigos e até seu irmão. Sem falar no próprio pai. Com esposas caninanas, umas verdadeiras sangue-sugas de tudo. Tiravam o dinheiro, a paz e o sossego dos maridos. Aí mesmo era que Ritinha ia para o céu!Quase quatro anos de paz, uma mulher linda e solicita. Nem um desagravo. _Casei com um anjo. Dizia ele.Finalmente nas Bodas de cinco anos. Casa nova, vida sempre progredindo, viagem de segunda lua de mel já marcada. Darcy resolve quebrar um velho protocólo. E com uma braçada de flores do campo, preferidas de Ritinha e uma pulceira de ouro onde mandou gravar: " Eternamente seu...". Chegou em plena sexta feira, três horas antes do horário habtual de 20:30h para surpreender a mulher e levá-la para jantar.Entrando de mancinho, estranhou a casa toda fechada, abafada e tão silenciosa. Já estava habtuado com tudo cheiroso, limpo, assado no forno e mesa posta. Sua esposa bem arrumadinha, sempre saída do banho e toda folgosa.Foi até a cozinha, sala de TV. E nada. Já no corredor para os quartos ouviu um barulho conhecido. O som dos lamentos amorosos e doces da esposa. Arregalou os olhos. Tremendo o corpo todo e largando as flores de lado. Seguiu decidido pelo corredor e segurando forte a maçaneta da porta ouviu sua mulher dizer:_ Venha mais um pouco do jeito que eu gosto. Mas anda que logo é hora dele chegar e tenho que me recompor.Segurando firme a maçaneta da porta, Darcy foi tomado por uma paz e uma lógica incompreencíveis. Ouvia em seus pensamentos os elogios recentes que seu pai fez a Ritinha e seu casamento._ Meu filho, você é um homem de sorte rara. Não deve nunca, jamais disperdiçar essa preciosidade que é a sua esposa.Além do mais Darcy sempre foi um homem ponderado. Afrouxou a mão e se afastou da porta.8:30h, Darcy entra pela porta da frente de sua casa e encontra sua Ritinha. Linda, fresca e cheirosa. Para o jantar um belo peixe assado que ele adora, vinho no ponto e sua sobremesa preferida.Naquela noite uma certa malícia nas carícias de Darcy surpreenderam Ritinha. Ele estava com um toque diferente e mais que maldoso. Porém apaixonado. E não é que a moça ficou quietinha e se deu como nunca em agradecimento ao marido pelas belas flores e pela pulceira de ouro que marcaria uma nova etapa na vida do casal.
Ericka Deriquehem

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Júlio Verne!!!

Ufa!! Como está difícil postar... mas esse período de penúria vai acabar!
De qualquer maneira, mesmo muito atrasado eu não poderia ignorar o aniversário de uma das mentes mais criativas da história da literatura mundial e um dos maiores escritores produzidos pela língua francesa: Júlio Verne.
O autor de "20.000 Mil Léguas Submarinas", "Viagem ao Centro da Terra", "A Volta ao Mundo em 80 Dias", "A Ilha Misteriosa", "Viagem à Lua" e tantos outros sucessos indiscutíveis da literatura mundial faria aniversário no dia 08 de fevereiro, se ainda caminhasse entre nós.
A sua característica mais impressionante e sua marca registrada foi seu incrível dom de prever os avanços tecnológicos (e alguns dos percalços que estes provocariam) bem adiante no seu tempo. Isso com uma riqueza de detalhes impressionante!
Ele previu o submarino (com todo o processo de funcionamento do mesmo), a viagem a Lua (com descrição muito precisa do método que seria utilizado e um erro de menos de 50km do local de lançamento) e outros mais. Na década passada foi encontrado um manuscrito perdido que previa a escada rolante, o microcomputador e até a hora do rush!!!
Mas ele não era apenas visionário. Seu estilo agradavelmente leve mesclado a personagens ricos e complexos o tornou um sucesso único em sua época. Para se ter uma idéia; o lançamento da última parte de "A Volta ao Mundo em 80 Dias" fez com que multidões de parisienses durmissem na porta dos vendedores de jornais na passagem de sábado para domingo do lançamento. Esse fenômeno se repetiu por toda a Europa Ocidental!
Fico por aqui, com um convite para que você que não conhece confira este grande escritor e você que já conhece revisite um velho amigo. Vale a pena.
E não se esqueça de dar os parabéns: sua vida e obra merecem.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

A Era das Nuvens!

Não é novidade para ninguém que sou defensor aberto da capacidade do brasileiro de criar obras nas mais diversas formas de expressão artística que surpreenderiam o mundo. Também não é novidade de que eu defendo o fato indiscutível de que HQ’s e RPG’s são obras de arte, não importando a forma com que você queira conceituar a mesma.
Pois bem, em meio a minha "atolação" e falta de tempo, eu consegui dar uma lida mais detalhada em algumas edições de revistas digitais sobre RPG que estão saindo na internet (para este assunto em especial, pode dar uma lida na resenha que coloquei no site do Universo Germinante) e eis que leio um excelente artigo que conta a ambientação de um universo steampunk que vale a pena ser desenvolvido e jogado: "Gelo e Vapor".
O cenário, criado e escrito por Leonardo T., conta a história de um universo onde o Tirano de Gelo avança e conquista terras após terras, subjugando a todos em seu rasto. Não tenho tempo aqui para explicar a trama, mas vale a pena! A cosmologia e o desenvolvimento da mesma é excelente e intrigante, criando o espaço – sempre necessário num RPG – para que o mestre desenvolva sua imaginação à vontade.
A primeira parte do artigo se chama "Era das Nuvens" e fica na revista DaemonZine nº 0. Esta revista foi criada pelo pessoal da Ópera Cultural (já responsável pela ótima OperaZine) com o objetivo específico de mostrar matérias baseadas no Sistema Daemon.
Já disse antes que vale a olhada! A revista é totalmente gratuita e fica disponível no recém-reformulado site da Opera Cultural (que ficou bem bonito e prático, diga-se de passagem...).
Depois de toda essa "rasgação de seda" o que você está esperando? Aproveite e baixe a revista, antes que "Gelo e Vapor" seja publicado. Porque eu acredito que esse seria um risco muito sério...

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Conto Inédito: Plantão Noturno.

Antes, um aviso: meu acesso à internet vai ficar um pouco complicado por um tempo. Tentarei resolver isso o mais rápido possível, ok? Prometo que não vou sumir. E segue abaixo mais um conto inédito!
O Universo estranho é aquele onde ocorrem coisas sem explicação num mundo onde a normalidade aparentemente segue sem ser afetada pelo que vemos nele. É como se levantássemos a ponta de um véu que encobre coisas que nossa mente não consegue organizar.
Você está convidado a entrar... e não mais se esquecer.


PLANTÃO NOTURNO
A única certeza que tenho na vida é que sou um soldado.
Servindo ao exército, não posso reclamar. Muitos se queixam da vida de caserna, achando que esta não corresponde a tudo o que esperavam. Mas as pessoas são assim; estão sempre reclamando de algo. Alguns reclamam do soldo, outros do ritmo de trabalho e assim por diante. Nunca estão satisfeitos. Mas mesmo esta madrugada, tendo que tirar o serviço de plantão de alojamento, eu me sentia ótimo.
O que eu nem ninguém no quartel poderia imaginar é que uma coisa – que só pode ter vindo de um lugar que eu chamaria de Inferno – estava se aproximando para silenciosamente matar um por um dos despertos.
Quando o soldado Matoso me acordou para o meu turno, tudo o que eu queria era passar duas horas tediosas olhando para o alojamento vazio e vendo as estrelas. Eu gosto de ver as estrelas. Essa é uma das qualidades de se ser um soldado. Quando você está sozinho no plantão, descobre que as estrelas formam padrões maravilhosos de serem vistos.
Eu ainda estava meio sonolento e calçando meus coturnos quando percebo o soldado Campos me olhando em meio a escuridão. Suas órbitas pareciam ter um brilho todo especial na escuridão desta madrugada, indicando que o seu pânico era real.
- Cara, eu tive um pesadelo muito sinistro...
- Tudo bem! Vai dormir agora. É meu turno.– eu respondi. Que mais eu poderia dizer?
- Mas cara, foi uma das visões...
O soldado Campos tinha umas visões de vez em quando. Ninguém as levava muito a sério, mas certa vez ele me salvou a vida ao dizer que sonhara com uma arma caindo e disparando, me matando. Eu não levei a sério no dia, mas ele ficou atento... e não é que o danado me salvou de levar um tiro no meio de um treinamento daquela mesma tarde? Nem preciso dizer o que aconteceu, né? Depois disso, passei a dar mais valor aos seus sonhos proféticos...
- Certo... – sussurrei para não acordar ninguém e acalmar o Campos - ... o que houve?
Seus olhos se arregalaram ainda mais: - Algo... alguma coisa. Vinda de um lugar terrível. Por algum erro da natureza, ela está em nosso mundo. Essa coisa, ela vai matar todos os despertos. Onde ela se arrasta, o silêncio a acompanha... e a morte terrível e descarnada!
Bom, isso eu já achei demais. Uma coisa era prever um acidente num treinamento, mas daí a ver criaturas do inferno caminhando pelo quartel e matando os despertos (o que ele queria dizer com isso? Na hora não tive a menor idéia) era um pouco demais. Além do mais, ele tinha o velho problema. Tentando evitar tocar no problema dele, fiz com que visse o absurdo da situação. Isso o deixou confuso:
- Será que eu tive apenas um pesadelo? – me perguntou.
Concordei imediatamente e me retirei para assumir meu posto. Quando estava para sair do dormitório, Campos me chamou de novo. Eu me virei e sua pergunta me intrigou:
- Será que a natureza pode cometer erros?
Saí sem responder. Que mais poderia fazer? Eu tinha um plantão para tirar e sou um soldado.

* * *

Em outro ponto do quartel, um sentinela que havia acabado de render o turno anterior foi o primeiro a ver a criatura.
Foi a última coisa que viu.

* * *

O plantão ocorria sem maiores ocorrências, até a chegada do Ronda. Não pude evitar um certo aborrecimento ao ver quem era. O Sargento Figueira era um porre. Vivia pegando no pé de todo mundo e adorava dar “chamadas” nos soldados. Era comum que fizesse a ronda mais de uma vez, tentando usar qualquer coisa que considerasse fora das regras para “canetar” o pessoal de serviço.
Existia uma certa tensão entre nós. Eu gostava das coisas certas e ele gostava de inventar ocorrências para ferrar com os soldados. Por isso, os olhos dele brilhavam quando se aproximou de mim. Percebi que tinha alguma sendo preparada para mim na hora em que o vi. Fiz a apresentação de praxe e ele logo falou:
- Tô sabendo que existe uma armação de alguns “guerreiros” para fugir para uma festa. E até onde sei você é um dos responsáveis por isso. – diante de meu espanto, ele fez seu gesto favorito: me apontou o dedo bem próximo do rosto e começou a falar mais alto – Não vem com carinha de inocente não, porra! Se eu perceber alguma coisa, ou se alguém sumir, eu boto para foder todo mundo nessa merda! Estamos entendidos, guerreiro?
O treinamento funcionou na mesma hora e respondi: - Sim senhor!
Ele sacudiu a cabeça afirmativamente e entrou no alojamento. Depois que se retirou, apontou o dedo para mim novamente sem dizer nada e foi continuar a ronda.

* * *

Enquanto o Sargento Figueira dava seu chilique comigo, outra sentinela só percebeu o horror silencioso que surgia das sombras quando já era tarde demais...

* * *

- Cara, vai dormir...
Levei um susto quando ouvi a voz do soldado Campos vindo da porta do alojamento, atrás de mim. Isso me irritou e acabei respondendo rispidamente:
- Porra, Campos, vai dormir!
- Ele só devora aos que estão acordados, cara...
- Ótimo! Então dorme que ele não vai te perturbar... mas que saco! Isso é só a merda de um pesadelo recorrente, pô!
- Ele vai atacar antes do final de teu turno. Finja que está dormindo que você sobrevive. Se te ver acordado, virá atrás de você. A coisa só percebe os despertos e sabendo que tem um por aqui, não vai descansar...
- Mas que merda, Campos!
- É sério! Ela sumirá ao amanhecer, mas até lá matará os despertos. E talvez você seja o último...
Já estava de saco cheio. Além de perceber que o Sargento estava aprontando para mim, tinha que aturar as maluquices de um colega. Portanto, acabei sendo bem indelicado quando comentei:
- Campos, nós dois sabemos do seu problema: o quanto você fumou ou cheirou hoje?
Aquilo o deixou um pouco confuso e contrariado. Mas sua reação deixou claro para mim que havia sido o bastante. Para mim o caso estava encerrado, para ele também.

* * *

Pergunto-me agora; antes de chegar até mim, quantas vezes a criatura passou perto e eu não vi? Analisando o seu movimento, vejo que ela se alimentou das sentinelas antes, atacando o perímetro em torno do quartel, para depois vir fechando numa espiral em direção ao centro. Isso significa que ela deve ter passado próxima a mim no mínimo duas vezes, só que me ignorando até aquele momento. O motivo de agir assim me é um completo mistério. Mas como esperar lógica quando o demônio lida com você?

* * *

Já estava quase no final do turno quando o Sargento voltou. Suas passadas largas e o rosto fechado me informavam que a coisa estava feia para o meu lado. Agüentei firme enquanto ele se aproximava, pois soldados sempre estão prontos para o que der e vier.
E eu sou um soldado.
Quando preparava para me apresentar, ele passou por mim como um raio. Entrou direto no alojamento, decididamente a procura de alguma coisa. Eu o segui. Ele andou de um lado para o outro dentro do alojamento, chegando a acordar um ou outro soldado que lá dormia ao tirar algum travesseiro ou lençol que cobrisse o rosto. Depois de verificar tudo o que desejava, se virou para mim e disse:
- O que está fazendo fora do seu posto, soldado?
Fiquei sem resposta. Ele foi comigo para fora e começou a gritar:
- Escuta aqui, seu merdinha. Se tá achando que vai fuder com o meu serviço, tá muito enganado! Acha que não sei que você tá por trás do sumiço dos sentinelas...
- Sumiço dos sentinelas...?
- Cala a porra da boca, cacete!!! Eu sou teu superior e estou falando, soldado! E não me venha com “papinho de cerca Lourenço” seu babaca!
Pegou um caderninho do bolso e começou a anotar.
- Tu tá fudido na minha mão, moleque! Vou arranjar umas semanas divertidas para você...
Foi nesse momento que eu vi. Silencioso como o próprio vácuo, o demônio se arrastava até onde estávamos. Era uma enorme cabeça avermelhada com gigantescos chifres que saíam de suas têmporas, tendo buracos nos lugares onde deveriam existir olhos. Nestes mesmos “olhos” duas pequenas chamas brilhavam com uma intensidade maligna e sem outro propósito que o de destruir. Não havia pêlo de espécie alguma nesta face demoníaca, a não ser por pequenos tufos que saiam das bordas de suas orelhas enormes e pontudas. O nariz lembrava o de um réptil, sem proeminência e seu sorriso demoníaco mostrava caninos proeminentes e uma brancura sobrenatural.
O resto do corpo era como o esqueleto de uma cobra, sua longa espinha à mostra movendo-se apoiada nas vértebras. Aquilo se movia com uma rapidez inacreditável e apenas sorria em meio ao silêncio total que a envolvia.
Apontando apavorado, tentei gritar. Mas nada saiu. Eu sentia que gritava a plenos pulmões, mas o som simplesmente não se propagava. Era como se meu grito estivesse sendo ouvido em outra dimensão que não a nossa.
Por um momento, o sargento quis me dar uma bronca. Mas isso durou um segundo, pois quando percebeu que sua voz sumira junto com minha expressão apavorada e o apontar desesperado para trás dele, se virou. Devo admitir que ele agiu como um soldado, pois mesmo diante do horror em pessoa, ele sacou sua pistola e começou a atirar. Foi muito estranho ver o estampido, sem que som algum saísse. Mesmo com o sargento virado de costas para mim, pude perceber que sua boca também se escancarou em um grande berro quando viu que a criatura não diminuiu o ritmo e – com um repentino movimento circular – deu um bote.
Ela o agarrou com suas vértebras expostas com uma agilidade impressionante e o abocanhou. Enquanto era devorado e soltava seus urros de dor e desespero, o sargento olho para minha direção, implorando ajuda. Mas o que poderia fazer? A pistola do sargento se encontrava caída mais próxima do demônio do que de mim, como meu plantão era de alojamento eu mesmo não carregava arma e já havia sido demonstrado que não armas não serviriam para nada. Levanto a mão num ato de repulsa e terror e – nesse momento – percebo algo.
Dou uma última olhada para o sargento. Qual deve ser a sensação de se sentir devorado enquanto a ajuda que você espera foge para longe diante de seus olhos. Foi realmente um sinal de reconhecimento de seu destino que percebi em seus olhos no último momento?
Então, me retiro para dentro do alojamento. Tinha que ser rápido para que o demônio perdesse tempo se alimentando. Caminho de forma apressada para o seu interior, respiro fundo e acordo o soldado Campos. Este acorda de sobressalto e fala ao me ver:
- Você está vivo, cara?
- É claro!
- Então... então foi loucura minha mesmo?
- É isso aí parceiro. Agora coloca o coturno que chegou o seu turno...

* * *

O resto é história. Quando levantei o braço e vi que o meu turno havia acabado, nada mais natural que chamar o próximo vigia de alojamento, certo? Tudo o que fiz foi juntar 2 + 2 e chegar a 4. Eu tinha todas as informações de que precisava. O demônio sabia que alguém estava acordado e iria caçar sua presa. Por que então não satisfazê-lo? Já sabia que ele partiria ao amanhecer mesmo...
Seu ataque era silencioso, por isso não sei exatamente em que momento Campos partiu. Pareceu-me que alguém engoliu em seco e um leve princípio de grito se iniciou próximo da porta de entrada do alojamento. Mas não verifiquei. Para todos os efeitos estava dormindo...
O quartel está uma balbúrdia. Armas foram encontradas abandonadas nos postos e nenhum sinal das sentinelas, o mesmo ocorrendo com os vigias de alojamento. O sargento Figueira também desapareceu, sua arma foi encontrada em frente ao nosso alojamento. Mas acredita-se que seja lá o que for que aconteceu, também pegou o soldado Campos. Portanto, deduzem, os desaparecimentos ocorreram no horário do turno dele.
Já fui entrevistado e vou estar no inquérito. Não me preocupo com o resultado, pois o importante foi que evitei uma morte horrível. Estou pronto para qualquer coisa que o exército preparar para mim. Afinal de contas, sou um soldado.
O que eu não sou é idiota.