segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

O valor das coisas e o valor de cada um.

Eu me lembro de quando Rebelião já estava pronto e como ninguém queria publicar o coitado. Todos a quem apresentávamos o jogo diziam que ele era muito bom mas "entrava em conflito" com alguma publicação que a editora já tinha ou com "algum projeto em desenvolvimento" da mesma. Existe muito talento por aí que não consegue aparecer. Por isso mesmo, crio aqui a seção Universo Visitante, onde postarei contos, poesias, pensamentos, desenhos e sei-lá-mais-o-quê que aparecer. Mas não se preocupem (ou respirem aliviados); isso não é desculpa para que eu pare de postar material meu, ok?
O Universo Visitante serve para mostrar que todos têm algo a dizer... e que todos podem ser ouvidos. Se desejar, basta mandar para mim. Espero que todos entendam que eu terei que analisar o material antes. Mas, fora isso, publico o que der numa boa! : )
Hoje vocês vão conhecer o trabalho de Ericka Deriquehem, que carrega um estilo muito leve e interessante (bem diferente do meu). Eu gostei muito e pretendo então estreiar essa seção (que fará muito sucesso, espero) com um conto seu chamado "O valor das coisas e o valor de cada um".
Divirtam-se!

Portanto Darcy casou. Coisa mais perfeita era Ritinha. Muito linda, clarinha, boquinha, olhinhos doces. Toda meiguinha. Dona de casa exemplar e além de tudo, cozinhava que ela só. Era prato para todos os gostos.Falando do Darcy. Pessoa muito boa, um homem centrado e com critério para tudo. Nunca teve um amigo que lhe fizesse uma falcatrua. Todos gostavam muito do Darcy.Passados três meses do casório e tudo ia muito bem. Casa um brinco, geladeira repleta de gostosuras e ainda com a preocupação do equilíbrio. Nada de gorduras ou frituras, para não fazer mal ao maridão e ela não perder a boa forma. Uma esposa a antiga com os critéros da mulher moderna. Coisa de doido era a moça.Ela tinha uma regra porém e da qual não abria mão. Pedia sempre a seu marido que nunca chegace em casa fora de hora. Nem cedo nem tarde, dizia ela. Para não estragar o jantar e nem os mimos que ela reservava para ele após um duro dia de trabalho. E se foram dois anos assim, tranquilos, sem atropelos, uma esposa dedicada e apaixonada e um marido satisfeito e realizado o homem mais feliz do mundo.Foi então que Darcy resolveu pedir a Ritinha que era hora deles terem um filho. A moça empalideceu._Poxa amor! Filho agora! Tem certeza? Não seria melhor esperar e aproveitarmos mais um tempo?E foi por aí dando tantas desculpas que Darcy nem falou mais na coisa.Mais um ano e a cobrança era geral. Parentes e amigos queriam vêr um herdeiro desse casal perfeito. No trabalho chegou a ouvir dos amigos que mulher bonita e prendada como a Ritinha tem que ter filhos logo...Ele então resolveu tocar novamente no assunto. E a resposta foi decisiva._ Olha Darcy. Se eu quizer ter filhos eu falo tá! Sou eu que vai gerar, cuidar e nem vou ter mais tempo para nós. Quero esperar pelo menos mais uns cinco anos e sei lá.Ele se aborreceu._ por que isso? Que besteira! Todo casal quer ter filhos, mudar a rotina de recem casados para de pais.Foi aí que ela soltou o que seria a pulga na orelha de Darcy._Não quero mudar a rotina. Eu tenho meus dias só para mim e você não tem do que reclamar em nada. Não abro mão de minhas tardes e de minha liberdade.Ele ponderou como sempre fazia, calmamente._ Está bem. Já entendi.Preferiu não dizer mais nada. Saiu sem discutir. Sempre achou que isso não resolvia e afinal eles nunca haviam se desentendido. Tinha mesmo que analisar tudo o que se tinha dito.Sob o chuveiro, depois de muita reflaxão. Ele começou a imaginar as tardes da mulher._Casa sempre arrumadinha, roupas, comida, orçamento em dia, contas pagas, compras feitas. Essa mulher faz o que todos os dias?_Arruma e tem muitas tarefas. Deus, com estou sendo injusto.Ao voltar para o quarto, beijou a esposa e solenemente pediu mil desculpas pela discuçaõ desnecessária._Sinto muito minha flôr. Você só quer cuidar de mim e eu aqui fazendo mais cobranças.Ela se voltou para o marido e se encheu de ternura dando a ele todo seu amor...Passados uns meses e Darcy que só tinha elogios para esposa. Via seus amigos e até seu irmão. Sem falar no próprio pai. Com esposas caninanas, umas verdadeiras sangue-sugas de tudo. Tiravam o dinheiro, a paz e o sossego dos maridos. Aí mesmo era que Ritinha ia para o céu!Quase quatro anos de paz, uma mulher linda e solicita. Nem um desagravo. _Casei com um anjo. Dizia ele.Finalmente nas Bodas de cinco anos. Casa nova, vida sempre progredindo, viagem de segunda lua de mel já marcada. Darcy resolve quebrar um velho protocólo. E com uma braçada de flores do campo, preferidas de Ritinha e uma pulceira de ouro onde mandou gravar: " Eternamente seu...". Chegou em plena sexta feira, três horas antes do horário habtual de 20:30h para surpreender a mulher e levá-la para jantar.Entrando de mancinho, estranhou a casa toda fechada, abafada e tão silenciosa. Já estava habtuado com tudo cheiroso, limpo, assado no forno e mesa posta. Sua esposa bem arrumadinha, sempre saída do banho e toda folgosa.Foi até a cozinha, sala de TV. E nada. Já no corredor para os quartos ouviu um barulho conhecido. O som dos lamentos amorosos e doces da esposa. Arregalou os olhos. Tremendo o corpo todo e largando as flores de lado. Seguiu decidido pelo corredor e segurando forte a maçaneta da porta ouviu sua mulher dizer:_ Venha mais um pouco do jeito que eu gosto. Mas anda que logo é hora dele chegar e tenho que me recompor.Segurando firme a maçaneta da porta, Darcy foi tomado por uma paz e uma lógica incompreencíveis. Ouvia em seus pensamentos os elogios recentes que seu pai fez a Ritinha e seu casamento._ Meu filho, você é um homem de sorte rara. Não deve nunca, jamais disperdiçar essa preciosidade que é a sua esposa.Além do mais Darcy sempre foi um homem ponderado. Afrouxou a mão e se afastou da porta.8:30h, Darcy entra pela porta da frente de sua casa e encontra sua Ritinha. Linda, fresca e cheirosa. Para o jantar um belo peixe assado que ele adora, vinho no ponto e sua sobremesa preferida.Naquela noite uma certa malícia nas carícias de Darcy surpreenderam Ritinha. Ele estava com um toque diferente e mais que maldoso. Porém apaixonado. E não é que a moça ficou quietinha e se deu como nunca em agradecimento ao marido pelas belas flores e pela pulceira de ouro que marcaria uma nova etapa na vida do casal.
Ericka Deriquehem

Um comentário:

Leonardo T. disse...

Muito bom o conto e muito boa a iniciativa!